Cidade do Vaticano (RV) – O Instrumento de trabalho do Sínodo ordinário sobre a família foi apresentado na manhã desta terça-feira (23/06) na Sala de Imprensa da Santa Sé. O documento inclui a RelatioSynodi – texto conclusivo do precedente Sínodo realizado em outubro de 2014 – integrado com a síntese das respostas ao questionário proposto no decorrer do ano a todas as Igrejas do mundo.
O Instrumento está divido em três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.
Não à remoção da diferença sexual
Quanto a este ponto, evidenciam-se as “contradições culturais” da nossa época, em que se diz que “a identidade pessoal e a intimidade afetiva devem afirmar-se numa dimensão radicalmente desvinculada da diversidade biológica entre homem e mulher” ou em que se pretender reconhecer o matrimônio a casais compostos independentemente da diversidade sexual. Daqui o chamado a um “melhor aprofundamento humano e cultural, não somente biológico, da diferença entre os sexos” porque a sua remoção “é o problema, não a solução”.
Família, pilar fundamental da sociedade
O Instrumentum chama em causa também as “contradições sociais” que levam à dissolução da família: guerras, migrações, pobreza, exploração, cultura do descartável, conjuntura econômica “desfavorável e ambígua”, enquanto as instituições falham, incapazes de amparar os núcleos familiares. Estes, ao invés, “pilar fundamental e irrenunciável do convívio social”, necessitam de “políticas adequadas”.
Dignidade para idosos e deficientes. Pastoral especifica para famílias migrantes
O documento ressalta a importância da família como instrumento de inclusão, sobretudo de categorias frágeis, como os viúvos, os idosos e os deficientes. Cita-se ainda a importância de uma pastoral específica para as famílias migrantes, sobretudo em contextos onde não existe um acolhimento autêntico, para não alimentar fenômenos de fundamentalismo. E o drama cresce quando a migração é ilegal, promovida por “circuitos internacionais de tráfico de seres humanos”. O Instrumentum destaca também o papel das mulheres, recordando suas chagas – exploração, violência, aborto, útero de aluguel – e auspiciando uma valorização de sua figura na Igreja.
Sacramento indissolúvel do matrimônio
A segunda parte reafirma a indissolubilidade do matrimônio sacramental, mas recorda, ao mesmo tempo, que a Igreja deve “acompanhar” os momentos de sofrimento conjugal, numa ótica de misericórdia que “nada tira à verdade” da fé. “Todos têm necessidade de dar e receber misericórdia”, lê-se na terceira parte, e “alguns pedem que também a Igreja demonstra uma atitude análoga em relação àqueles que romperam a união”. O documento retoma, portanto, um ponto-chave da Relatio Synodi, isto é, o dos casos de nulidade matrimonial: quanto à gratuidade dos processos, registra-se um amplo consenso.
Reavaliar as formas de exclusão litúrgico-pastorais dos divorciados recasados
Sobre os divorciados recasados, auspicia-se uma reflexão sobre a oportunidade de eliminar “as formas de exclusão atualmente praticadas no campo litúrgico-pastoral, educativo e caritativo” porque estes fiéis “não estão fora da Igreja”. Os caminhos de integração pastoral devem ser precedidos por “oportuno discernimento” e realizados “segundo uma lei gradual de respeito do amadurecimento das consciências”. Quanto à Eucaristia para os divorciados recasados, o Instrumentum evidencia “o acordo comum” sobre a hipótese de uma “via penitencial” sob a autoridade de um bispo. Por fim, embora mantém-se a contrariedade da Igreja quanto às uniões homossexuais, se reitera que “toda pessoa, independentemente da própria tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida, com sensibilidade e delicadeza, na Igreja e na sociedade”. Daqui, os votos de projetos pastorais específicos para as pessoas homossexuais e suas famílias.
O documento termina recordando o Jubileu extraordinário da Misericórdia, que terá início em 8 de dezembro próximo, à luz do qual se insere o Sínodo. A Assembleia episcopal está programada de 4 a 25 de outubro, sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. (RB)