quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Cursos de noivos em um fim de semana: ainda existe isso?



Há ainda bastante desconhecimento, mesmo com tanta informação objetiva, ou melhor, com diretrizes claras da Igreja

A resposta é sim, infelizmente. E o Papa Francisco também se mostra preocupado com essa situação, como vem demonstrando em pronunciamentos e também na exortação Amoris Laetitia ao pedir um “empenhamento maior na preparação” para o Matrimônio.
Mas, antes das queixas sobre o meu “infelizmente”, deixe-me explicar: não estou afirmando que palestras não sejam boas e que não promovam reflexão. Palestras bem fundamentadas e bem conduzidas motivam e instruem, com certeza. Digo “infelizmente” porque a Igreja orienta, há décadas, que esta não é a forma adequada para os “cursos de noivos”, mas isso continua acontecendo. Para assumirem um sacramento que é para toda a vida, é necessário uma reflexão tranquila, com mais tempo e em ambiente que favoreça a partilha. Já em 1978 o documento da CNBB comentava: “menos formal que o “curso de noivos”, esse catecumenato pode ser realizado nas casas, acompanhando cada casal de noivo ou agrupando vários”(Parágrafo 2.5, Doc 12, CNBB). Note que a expressão “curso de noivos” recebe aspas no próprio documento, fazendo certa crítica à ideia de curso.
De lá para cá, nestes 40 anos foram diversas as referências e recomendações bastante diretas sobre esta etapa da preparação em documentos de conselhos e dicastérios, dos bispos latino-americanos (Celam), em exortações, no Catecismo publicado em 1992 e em entrevistas e pronunciamentos dos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Entre eles, destaco um documento inteiro dedicado ao assunto, de título Preparação para o Sacramento do Matrimônio, do Pontifício Conselho para a Família.  Não seria possível um título mais direto que este, assim como também não parece possível que os sacerdotes e agentes que tratam diretamente deste setor não conheçam tal documento. Mas em minhas viagens de formação por todo o Brasil, posso testemunhar que isso acontece, e muito. Este é um documento ainda desconhecido.
Talvez aí esteja o motivo que explica porque ainda existe, em muitas dioceses e paróquias, a oferta dos “cursos” de noivos que em três ou dois dias apresentam alguns dos temas mais relevantes da vida matrimonial. Alguns em um único dia…
Neste documento, Preparação para o Sacramento do Matrimônio, temos o enquadramento dos cursos de noivos como Etapa Próxima da preparação para o Matrimônio, afirmando que não deve se reduzir a uma formalidade, que merece tempo e cuidado necessários, que seja feito de encontros frequentes, que elementos da psicologia, medicina e outras ciências são úteis, mas o centro deve ser a doutrina natural e cristã sobre o Matrimônio e que os agentes sejam fiéis ao Magistério da Igreja. No mesmo documento, temos a descrição das etapas Remota e Imediata. Especialmente a etapa Imediata é também uma desconhecida, pois tem sido atropelada pela Próxima (cursos e encontros de noivos) feitos fora do tempo, às vésperas do casamento.
Além deste documento, muitos outros são enfáticos, como o Documento de Aparecida (2007) que pede “itinerários pedagógicos de fé” para a preparação próxima e a Amoris Laetitia (2016) que fala dos benefícios de se acompanhar com bom período de antecipação.
Os “cursos de noivos” deveriam ser, como nos recomenda São João Paulo II na Familiaris Consortio, uma catequese pré-matrimonial. No Brasil a partir da sugestão da Pastoral Familiar,  esta catequese é identificada como EPVM – Encontros de Preparação para Vida Matrimonial e possui um material de apoio para encontros semanais com os casais que se preparam (Matrimônio: Encontros de Preparação, André Parreira e Karina Parreira, Editora CNPF).
Há ainda bastante desconhecimento, mesmo com tanta informação objetiva, ou melhor, com diretrizes claras da Igreja. Mas há também quem prefira abrir mão da comunhão trilhando seus caminhos paralelos, afirmando não ser possível por este ou aquele motivo. Mas será que a Igreja nos recomenda algo impossível? E diante dos fatos não há argumentos. Conheço muitas dioceses e paróquias, sejam metrópoles, sejam cidades pequenas e até mesmo comunidades rurais a centenas de quilômetros da matriz que conseguem ofertar os EPVM em sintonia com a Igreja. Que perfil de paróquia não conseguiria?
A quarta das sete catequeses preparatórias para o Encontro Mundial de Famílias com o Papa, em Dublim, 2018, nos provoca reflexão: “Quanto acompanhamento e quanto discernimento os jovens casais conseguiram desfrutar antes de dar o grande passo de sua vida, que é o sacramento do matrimônio? Devemos começar a oferecer-lhes o que é devido.”
E ainda com esta bela e atual catequese, encerro esta reflexão: “Diante de toda essa grande riqueza de verdades extraordinárias do Evangelho e de diretrizes concretas e realistas de ordem pastoral, é necessário e fundamental perguntar-nos quanto tempo, quanto espaço e quantos recursos as nossas comunidades cristãs dedicam à pastoral pré-matrimonial e à matrimonial? É muito fácil responsabilizar inteiramente as muitas falhas matrimoniais nos ombros somente dos cônjuges.”

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