A Sagrada Família, Jesus, Maria e José, foi uma família santa que passou por muitas provações. A cruz fez parte da vida da Sagrada Família. José, o pai adotivo passou por dúvidas; não havia lugar para o Filho nascer; tiveram que fugir para o Egito; o Menino perdeu-se do grupo e ficou no Templo; José morreu cedo; Maria foi acolhida na família de João, após a execução de Jesus no calvário e fez a experiência da viuvez.
Hoje a família passa por grandes cruzes e o Papa Francisco nos pede “cuidar das famílias feridas”. Se quisermos ajudar as famílias precisamos estender os dois braços: o da misericórdia e o da verdade. A Igreja deve ter a ternura da mãe e a clareza da mestra. Respeitar a verdade na caridade no que tange à família.
O Sínodo mostrou grande apreço e manifestou sua gratidão pelas famílias que vivem sua vocação e missão com generosa fidelidade. Elas são “escola de humanismo” e vivem o “Evangelho da família”. O ser humano não perdeu o “desejo da família”. O homem é um ser familiar porque é um ser social.
Precisamos ver a família com o olhar de Jesus. Desde o início da criação a família é um bem. Mas, pela dureza do coração humano ela foi ferida pelo pecado e redimida por Cristo Jesus. Sob o olhar de Jesus, nós queremos ver a beleza e a riqueza da família, divulgar seus valores e sempre monstrar amizade e alegria em seu favor.
Para isso, a Igreja quer melhorar a preparação dos futuros padres para que sejam cirineus da família. Quer enfatizar a preparação para o casamento. Quer acompanhar os casais novos. Quer melhorar os Tribunais Eclesiásticos. Quer zelar pela transmissão da fé na família. Quer debruçar-se com a ternura de mãe e a clareza de mestra sobre os problemas que afligem as famílias. Quer desenvolver a espiritualidade conjugal. Quer conscientizar a paróquia para que ela ofereça ajuda à família.
Por fim, Igreja não se cansa de acreditar no Evangelho da família que consiste nos seguintes valores: a dignidade da pessoa humana, a família como um bem para a humanidade, a reciprocidade do homem e da mulher, a comunhão e o relacionamento das pessoas na comunidade familiar, a geração da vida, a transmissão de valores.
Passaremos o ano de 2015 refletindo sobre a família, em preparação ao Sínodo da Família quer acontecerá no mês de outubro em Roma. O Papa Francisco demonstrou uma sensibilidade especial para oferecer ajuda às famílias em dificuldade e confirmar aquelas que dão testemunho de fidelidade e alegria enquanto famílias cristãs.
A família é o fato social mais antigo da humanidade, mas hoje passa por baixa nupcialidade, diminuição da natalidade, banalização do divórcio. Os jovens adiam e até recusam o casamento. Muitos vivem juntos antes de oficializar publicamente seu consentimento. A duração do casamento está em função da durabilidade dos sentimentos. Quando se descobre algum defeito do outro, então tudo muda e experimenta-se o sentimento de estar diante de um estrangeiro. Não há apoio da sociedade em relação a fidelidade.
A separação e falência conjugal é hoje uma epidemia. A preparação para o casamento é insuficiente e superficial, as experiências sexuais são precoces demais. A sociedade não oferece proteção à fidelidade. A promiscuidade é generalizada e o vazio espiritual é alarmante. Há uma “privatização” do casamento, isto é, depende de cada cabeça e além disso perde-se a dimensão sacramental do matrimonio, que passou a ser apenas algo humano.
Quem ama trata a pessoa amada como única no mundo; tem confiança no amado; torna-se confidente do outro; adapta-se ao ritmo do outro; evita o ressentimento e estimula o agradecimento; diz a verdade com caridade em vista do aperfeiçoamento do outro; respeita as etapas do crescimento; une a criatividade à fidelidade.
A realidade básica da família é o amor, que não é primeiramente sentimento e nem paixão. Amor é aceitar o outro como ele é e promovê-lo como “outro”, sem manipulá-lo e adaptá-lo aos meus interesses. Amar não é capturar o outro, mas entregar-se a ele. Amor não é posse, é doação. O amor diz: quero que tu vivas, quero que tu sejas, quero estar sempre contigo. O amor requer duração. Por isso o casamento como sinal do amor eterno de Deus pela humanidade, é indissolúvel. O amor une o casal, dá perenidade ao casamento e solidifica a família.
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Metropolitano de Londrina
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