O tempo passa. Tudo passa. Só o amor não passa. O tempo é a história de cada um de nós e da humanidade. As boas obras realizadas no tempo que nos é dado constroem a eternidade, não passam. Enfim, o tempo é dom e tarefa. Há um tempo para tudo: “Tempo de amar e de odiar; tempo de guerra e de paz; tempo de calar e de falar; tempo de rasgar e remendar; tempo de perder e de procurar; tempo de economizar e de desperdiçar, tempo de nascer e de morrer” (Cf. Ec.3). É bom não perder tempo, mas, não devemos ser escravos do tempo. Isso adoece. Ter tempo para si, para a família, para os outros e para as férias é sinal de maturidade. Salvemos nosso tempo de silêncio, de oração e de estar a sós. Vejamos agora algumas reflexões sobre nosso passado, presente e futuro.
Primeiro: O meu passado é o amor. Sim existimos por amor, fomos desejados, pensados e criados por Deus. Antes da criação do mundo nossa vida pessoal e individual já existia na mente e no seu desígnio amoroso do Pai. Cada ser humano pode dizer, venho do amor, fui pensado pelo amor, minha raiz, meu DNA, minha identidade é o amor. Existo porque fui e sou amado. Minha genealogia é o coração do Pai que me amou e me predestinou a ser seu filho.
Existimos porque o útero divino nos quis desde sempre. Nascemos e viemos do amor. Nossa origem é saudável, bendita, positiva. O mal é posterior. A prioridade é a do bem. Nosso passado é uma história de amor, mas também uma luta, um combate, um desafio onde o amor vence porque é mais forte. O nome do nosso passado, da nossa origem é amor. Enquanto olhamos a vida só pelas janelas do passado e do futuro, os ladrões entram e roubam o presente. São muitos os ladrões do presente.
Segundo: o nosso futuro é a glória. Com os olhos fixos na glória, na coroação, na visão de Deus, os mártires se entregavam com coragem, alegria e esperança aos seus algozes. Nosso futuro é participar da glória de Deus, conviver na glória dos que praticaram o bem e creram em Jesus. Nosso futuro chama-se glória.
Terceiro, o nosso presente é conduzido pela Providência Divina. A mão do Pai conduz nossos caminhos, protege nossos passos, levanta-nos quando caímos, aponta para o horizonte. O nosso hoje, o nosso instante, o nosso agora, o nosso presente é de Deus. Ele está presente, conduz e ilumina todos os nossos momentos. Não tenhamos medo. “Toda as coisas têm o seu momento justo, todo acontecimento tem o seu tempo sob o sol” (Cf. Ec 3,1).
Assim, somos amor na nossa origem, somos glória em relação ao nosso futuro, somos guiados pela Providência no nosso presente. Eis o tripé de nossa existência: amor, glória, Providência. Podemos dar adeus ao pessimismo, ao medo, à depressão, às preocupações. Acumulemos tesouros no céu. Nós somos o tempo. Somos o que fazemos do nosso tempo: “O tempo sois vós” (Santo Agostinho).
Enquanto é tempo, não nos cansemos de fazer o bem. Tenhamos os olhos no céu, os pés no chão e as mãos na construção de um mundo melhor. Alegremo-nos porque somos criaturas do Amor, somos amáveis, temos uma bondade original, somos bons aos olhos do Criador. Maior e transbordante é nossa alegria porque nosso futuro é a glória, a luz, a felicidade, a plenitude da vida. Exultemos de alegria, porque nosso presente está seguro. Estamos nas mãos de Deus, sob o olhar amoroso do Pai, conduzidos pela sua misericordiosa e sábia providência.
Este tripé “amor, glória, Providência” pode mudar nossa vida, encher-nos de esperança e de segurança, de entusiasmo e saúde, de coragem e criatividade. Em Deus vivemos, existimos e somos. Deus é o centro do coração humano e o ser humano é o centro do coração de Deus. Não somos frutos do acaso, somos filhos e filhas muito amados. Somos peregrinos que caminham para a casa, para o porto, para a pátria. “Desejai e caminhai, esperai e caminhai” (Santo Agostinho). No tempo que nos foi concedido viver, saibamos fazer tudo com competência, com fé, com alegria e com o coração.
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Metropolitano de Londrina
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