sábado, 16 de setembro de 2017

Histórias da Inovação XXIII - Chaves e fechaduras



Flávio Aguiar

A tragédia do voo da Germanwings nos Alpes Franceses ocorrida na última semana de março colocou em evidência este conjunto de dois objetos hoje tão caseiros e banais, mas que podem, como se vê, tornar-se uma arma mortífera: a chave e a fechadura. Ao que tudo indica, trancando-se hermeticamente na cabine de voo, o copiloto Andreas Lubitz pôde suicidar-se levando consigo outras 149 pessoas que nada tinham a ver com sua depressão e ímpeto de auto-aniquilação.

A chave mais antiga foi encontrada em Nínive, capital da antiga Assíria, no norte do atual Iraque. Chaves e fechaduras semelhantes às atuais (com algo parecido com tambores rotatórios) já foram encontradas no antigo Egito. Alguns autores da antiguidade atribuem a invenção da chave e da fechadura ao arquiteto e escultor Theodorus de Samos, do século VI A.C., que teria inventado também outros artefatos de carpintaria, marcenaria e trabalhos em metal, entre eles o nível de água e bolha.

Entretanto foram os romanos – para variar – que espalharam chaves e fechaduras pelo mundo antigo. Seu tipo preferido era muito simples, lembrando uma pequena tranca: duas argolas de ferro, cada uma presa numa folha de porta, atravessadas por um prego. Daí – de clavus, clavi (prego), e de sua declinação clavem – veio a nossa palavra chave, registrada pela primeira vez por escrito no século XIII de nossa era. Também veio a clave musical, que não deixa de ser uma chave, embora simbólica.

As fechaduras e chaves inteiramente de metal apareceram no fim do século IX da era cristã, também na Europa. Claro que a indústria de chaves e fechaduras desenvolveu-se enormemente com as duas revoluções industriais, a do século XVIII e a do XIX, quando começaram a aparecer os modelos atualmente mais populares, como a chave yale, a tetra, e outras.

As chaves também acompanharam as revoluções computacional, eletrônica e digital, com os modelos de cartões e furos, a magnética, a alfanumérica, e também os atuais modelos com reconhecimento da impressão digital – hoje também usados nos caixas eletrônicos.

As companhias de aviação não divulgam abertamente os modelos usados nas portas de suas cabines de voo, por razões de segurança. As mesmas razões foram invocadas para criar o tipo de segurança que levou ao desastre da Germanwings: a possibilidade de que o piloto ou os pilotos se tranquem hermeticamente, para evitar que sequestradores ou terroristas invadam a cabine, mesmo que controlem o restante do avião.

Agora um procedimento já adotado em algumas empresas aéreas tenderá a se universalizar: a obrigatoriedade de que durante o voo permaneçam sempre pelo menos duas pessoas na cabine de comando. Se um dos pilotos tiver de se ausentar (para ir ao toalete, o que parece ter sido o caso da Germanwings), outro membro da tripulação deverá ficar presente. Isto porque, como parece comprovar o caso do co-piloto Lubitz, a mente humana pode ter fechaduras que chave nenhuma consegue abrir.

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