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Foi um incidente "de cabeça para baixo" que ficou flutuando em minha memória quando comecei a escrever esta história. A lembrança era de uma noite de Natal. Foi um encontro perfeitamente natural, nada de milagroso.
E foi um encontro bom, que fez a missa de Natal um pouco mais jubilosa e as meditações que se seguiram um pouco mais profundas.
Quando já estava saindo e, tinha me virado, depois de trancar a porta, fui confrontada com um negro muito bonito, de meia idade e uma mulher pequena e mais jovem. Evidentemente, era sua esposa e ela segurava uma criança em seus braços. Não podia ver o rosto do bebê. Estava tão embrulhado contra o vento, úmido e forte, que soprava em Nova York.
Educadamente, o homem levantou seu chapéu e, com o
doce sotaque do sul, disse-me que ele e sua esposa estavam perdidos na cidade. Tinham acabado de sair do trem. Ele era carpinteiro, esperando encontrar um emprego melhor do que o da pequena vila de onde vieram. Mas, com uma coisa e outra, tinham-se perdido. Não tinham dinheiro, quer dizer, não o suficiente para um pernoite. Talvez eu pudesse dizer-lhes onde ir, o que fazer e a quem poderiam pedir ajuda.
Dito isto ficou aliviado, educada e silenciosamente, esperando por minha resposta. Sua esposa, que não havia dito uma palavra, somente sorriu uma ou duas vezes para mim. Ela estava tão confiante e tranqüila quanto ele, certos de que eu era a pessoa certa para ajudá-los.
Diante de minha visão apareceu um telefone. Quase voltei e abri a porta para contatar alguma agência social que pudessem atendê-los em suas necessidades. Então olhei para o meu relógio. Eram quase onze horas e véspera de Natal! Quem poderia encontrar a esta hora? E onde? E se encontrassem, esta pobre família teria que encontrar caminhos estranhos. Poderia, naturalmente, mandá-los de táxi. Tinha um dinheiro extra em minha bolsa, milagre dos milagres. Mas o abrigo de famílias de Nova York separava as famílias, as vezes, por falta de lugar.
Falta de lugar! Noite de Natal! Homem, mulher, criança! tudo de repente ficou claro para mim. Naturalmente, sabia que era só uma coincidência. Bom, de certa forma. Mas, tantas pessoas vinham na Casa da Amizade para este tipo de ajuda ou informação. Não, não era hora de mandar tal família para lugar algum. Era hora de oferecer-lhes hospitalidade pessoal, mesmo que por nenhuma outra razão que expiar a hospitalidade que não foi dada há quase dois mil anos atrás.
Naturalmente! Porque não havia pensado nisto antes! Havia o que o pessoal da Casa da Amizade chamava de "Eremitério", quer dizer, meu quarto. Era tantas coisas em uma. Tinha uma escrivaninha, uma cama, um fogão completo, com forno, uma espécie de geladeira, doada pela administração; às vezes até funcionava. O quarto tinha uma pia e uma lavanderia, uma banheira completa. Sim, era um lugar aconchegante, especialmente à noite. Ganhei uma árvore de Natal enfeitada, de mais ou menos 10 centímetros. Estava longe dos pinheiros imponentes, nativos da Rússia, tão dignos em sua beleza majestosa.
Ainda assim, a pequena árvore era bonita, muito bonita. Coloquei em baixo dela uma miniatura de manjedoura. Quando voltasse da missa, pretendia colocar o Menino lá. Sim, o quarto era limpinho e muito, muito aconchegante. Porque não convidar o casal para passar a noite lá? Amanhã poderia contatar as agências.
Pensamento mais rápido não poderia ter ocorrido. Meu casal estranho estava ainda em silêncio, cortesmente, esperando por minha resposta que certamente parecia demorar. Mas não mostravam sinais de impaciência.
Devagar, e por alguma razão inexplicável, timidamente, convidei-os para entrar no eremitério, pedindo desculpas pela simplicidade do lugar. A mulher endireitou-se e parecia mais alta quando apertava a criança mais perto de si. O homem agradeceu e começaram a me seguir.
Andamos os três longos blocos que separam a porta de meu quarto. Ninguém disse uma palavra. Ainda assim, o silêncio era companheiro.
Uma vez no quarto, os deixei o mais confortável possível. O bebê, finalmente fora de seus embrulhos, era amável. Não o ouvi chorar. O homem disse que era um menino, o primogênito. Fiz café, fritei alguns ovos, arrumei a mesa e então disse a eles que viria vê-los depois da missa.
Foi uma das missas mais bonitas de que já participei. O pensamento dos meus três peregrinos, abrigados no quarto aconchegante, provavelmente, ajudou. Hospitalidade pessoal a estranhos, para Cristo, aquece quem a dá tanto quanto uma bênção propriamente dita.
Terminada a missa, voltei logo para meu quarto. Para meu espanto, encontrei a porta da frente aberta! Isto nunca acontece no Harlem, onde usamos várias trancas, por segurança. Empurrei a porta aberta. A sala estava vazia.
As louças haviam sido lavadas e colocadas em seus devidos lugares. Nenhum sinal de ocupação. O Menino que pretendia colocar na pequena manjedoura, embaixo da árvore, já estava lá e uma vela estava acesa na minha janela!
Catherine de Hueck Doherty
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